sábado, 16 de maio de 2015

A Libertação em 13 de Maio

No dia 13 de maio de 1888 a Princesa Isabel assinou a lei áurea, depositou sua linda caneta tinteiro na mesa, aplacou sua consciência e seguiu em paz.
No dia 14 de maio milhões de pessoas forma jogadas na rua, sem nenhum tipo de reparação por 4 séculos de exploração.
No dia 14 de maio começou o sistema orquestrado e intencional de limitar a evolução social de quem tinha sido arrancado de seu continente e mantido contra sua vontade em situação degradante por toda a vida.
Do dia 14 de maio em diante os senhores e engenho e do poder começaram a achar que era mais justo trazer imigrantes europeus brancos pra trabalhar por dinheiro, do que começar a assalariar aqueles que até um dia antes estavam sendo chicoteados, vilipendiados e explorados.
Do dia 14 de maio em diante fazendeiros foram indenizados pela mão de obra "perdida", foram indenizados por não mais poder explorar e usar de forma cruel a vida de outros humanos.
Do dia 14 de maio em diante crianças negras foram impedidas por décadas de frequentar escolas de vários estados do país da democracia racial.
Do dia 14 em dia foram criadas leis que impediam a compra de terras por negros.
Do dia 14 em diante estados criaram normas que impediam que negros exercessem determinadas profissões mesmo que se habilitassem para isso.
Do dia 14 em diante até hoje temos todo um país que acredita nessa historiazinha romântica e apaziguadora do 13 de maio de 1888. E que acha que é vitimização reclamar um lugar de fato e de direito num pais que teve parte da sua riqueza construída em cima de chibatas e sangue em 3/4 da sua existência.
Mas basta um pequeno esforço de se informar para além do que os livros de história nos empurram cérebro adentro pra perceber que as coisas não foram assim tão bonitinhas.

***No dia de hoje eu me reservo o direito de não querer saber do que seus antepassados também sofreram aqui, porque se quiser reclamar sobre isso, vou querer saber mais sobre os navios branqueiros, sobre suas bisavós estupradas sistematicamente pelos senhores de engenho, pelos seus bisavós chicoteados até perder as forças, sobre suas famílias sendo separadas sem direito a reencontros, sobre mamilos arrancados, imigrantes europeus marcados a ferro quente, filhos vendidos para longe das mães ao nascer, sobre suas bisavós sendo impedidas de amamentar seus filhos para que não faltasse leite para o filho da sinhá delas e outras mil coisas que vou querer saber sobre o simetria desse sofrimento.
Apenas hoje, me poupem.
Amanhã podem recomeçar.


Simone Nascimento Souza (facebook)                                               (Ctrl C / Ctrl V)